terça-feira, abril 25, 2006

Teatro dos Vampiros Famélicos

Você já foi vampirizado?

Todo mundo já foi um dia. Existem até os que são vampirizados por uma vida inteira sem se darem conta. Há também os que encontram prazer nisso. Eu não! Tenho o corpo fechado contra vampiros.

Ou melhor, achava que tinha, até a vaidade me distrair.

Eu explico: O problema é que os mais vorazes representam muito bem. Disfarçam-se de amigos, irmãos, benfeitores... Alguns chegam mesmo a tornarem-se indispensáveis antes de expor os incisivos (Sim, incisivos! Caninos proeminentes são uma incorreção hollywoodiana, o único vampiro anatomicamente correto do cinema é Nosferatu) e mirarem sua jugular. Afinal, é modus operandi draculiano mesmerizar a vítima antes de roubar-lhe a alma.

É claro que Vlad Dracul – (im)popularmente conhecido como Vlad Tepes (empalador em romeno), o bonitão da ilustração – é uma mera analogia simbólica. Eu me refiro aqui aos vampiros de energia, os que estão vivinhos da silva e normalmente muito mais próximos do que você gostaria.

Dizem os entendidos que eles assim agem inconscientemente (eu não estou bem certo), teriam uma incapacidade nata em nutrirem-se nas abundantes fontes naturais de energia (cósmicas, telúricas etc), ficam desequilibrados energeticamente e passam a procurar fontes alternativas de alimento: pessoas. Credo! Duck feet mangalow three times!

Na verdade, é fato bem comum que alguém te vampirize. Existem seres que farejam sua vulnerabilidade e se aproximam, vindo do nada, cheios de rapapés e boas intenções ao ponto em que, em pouco tempo, muito pouco mesmo, você se sente incapaz de retribuir tanta dedicação e se vê empenhado, tomado por uma imensa gratidão, em atender aos caprichos mais estapafúrdios e aturar tudo quanto é chilique acreditando piamente ser devedor do tanto que eles supostamente fazem “por você”.

Mas até esse tipo sorrateiro de sanguessuga um dia esbarra num raio de sol ou passa em frente ao espelho e o cheiro de churrasco ou a ausência de reflexo permitem um vislumbre dos seus reais propósitos. Num desses momentos fugazes em que a máscara do vampiro cai você enxerga claramente que essas pessoas na verdade não fazem nada por você. Fazem PRA ELAS e POR ELAS.

É uma revelação e uma libertação que equivalem a um exorcismo!


Disfarçados de amigos, irmãos e benfeitores, eles sugam a sua energia, talento, boa-vontade e entusiasmo tentando preencher suas vidas vazias, infelizes e sem sentido. Cumulam-te de coisas, agrados, bajulações e promessas que você aceita e acredita porque empenhou seu coração, pra depois descobrir que tanta atenção é um mero instrumento de manipulação que só aumenta a força das correntes e o peso das bolas com que pretendem te dominar na vã esperança de drenar ou esmorecer seu ímpeto. Malograrão! São Jorge é poderoso!

Uma outra analogia pertinente é aquela em que o morto-vivo só sossega com um cravo bem enterrado no peito. É um espetáculo triste o ocaso de um vampiro. Ao certificarem-se de que perderam definitiva e irremediavelmente sua fonte de energia, uivam, guincham, negaceiam e esperneiam até finalmente estrebucharem, com os olhos esgazeados, vociferando ameaças petulantes.

Descansem em paz! Com a ajuda de uma estaca fincada no coração, se necessário.

segunda-feira, abril 24, 2006

Vade retro!

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça. Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições. Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.

Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.


Valha-me meu São Jorge!
Ogum-Iê meu pai!

sexta-feira, abril 07, 2006

Luxo ou lixo?

Luxo? Dessa vida nada se leva. Nada do que você tem. Apenas o que você é.

Isso posto, essa dimensão do “ter” é totalmente supérflua. Afinal, somos o que somos ou o que temos? Somos o que somos ou o que aparentamos?

Essa perspectiva de história e tradição que alguns pretendem associar ao luxo é totalmente descabida. Não faz muito tempo, uns 20 e poucos anos atrás, o maior exemplo de grife de luxo, eu diria até a inventora nacional desse conceito, lançou seu jeans plaqueado de cromados que custavam uma exorbitância e eram disputados por socialites a peso de ouro. Eu pergunto: Qual a relevância histórica do Sr. Humberto Saad, ou de sua marca, chupada de uma famosa mostarda (essa sim uma marca de prestigio e tradição)? Nenhuma!

Bom, está certo que história no “terceiro mundo” não é exatamente isso. Tudo tem no máximo 500 anos, enquanto a tradição é um conceito milenar. No passado, por exemplo, os plebeus japoneses impedidos de trajar os tecidos de seda com os bordados suntuosos signos exclusivos da nobreza feudal, tatuavam seus corpos na tentativa de, sob o manto uniformizado da classe operária, ostentar o mesmo privilégio dos ricos e poderosos Shoguns. Assim como a “roupa de baixo” é uma invenção francesa, não para manter a higiene do corpo, mas o asseio do suntuoso vestuário palaciano, esse sim digno de cuidados preservacionistas, pois custavam muito caro e distinguiam os nobres cortesões da plebe rude.

Outra afirmação absurda é a de que o luxo é uma necessidade associada ao além ou a uma dimensão espiritual, como se algum humilde pudesse dispor de prendas e acessórios milionários em um simples funeral proletário. Eu gostaria que os católicos expressassem uma visão crítica e manifestassem indignação contra o fausto e a pompa exibidos pelo Vaticano em oposição à miséria dos seus fiéis pelo mundo afora.


Soamos fúteis e pretensiosos ao pretendermos dar uma espécie de sustentação teórica ao exibicionismo da grande burguesia. Dinheiro, isso sim é um luxo.

Num mundo de despossuídos comida é luxo, saúde é luxo, educação é luxo, cultura é luxo. Como é que vamos considerar “marcas de luxo” uma coisa séria num panorama desses? Dentro de critérios mais em contato com a realidade, luxo é qualidade, exatidão e longevidade do desenho e acima de tudo, durabilidade. Se não é assim, assim é que deveria e vai ser.

O que explica que um jeans (vou usá-lo como unidade de avaliação) “de luxo” custe em torno de mil reais, enquanto uma marca popular, com a mesma matéria prima e basicamente os mesmos aviamentos custam quarenta? Eu sei. É a soberba e a separação de classes, o distanciamento da realidade histórica e a visão equivocada do comércio de vestuário, uma aberração que precisa terminar, uma abominação social.


Os punks e grunges, esses sim, são um verdadeiro luxo!