quinta-feira, março 24, 2005

Quer teclar?

Guilherme Isnard - publicado na Tribuna da Imprensa em 15/05/2005

"De onde tecla? Eu te conheço? Onde me achou?"
Essas abordagens secas, perguntas e suas conseqüentes respostas, são os inequívocos sinais de que novos tempos se instalaram. Desde os tempos imemoriais das redes heróicas de BBS e dos Ircs que um novo estilo de relacionamento se configura. Os avanços dos serviços de mensagens virtuais em tempo real, com o aporte dos recursos iconográficos, web câmeras, conversa de voz e chat por telefonia móvel, revolucionaram completamente a maneira como as pessoas se conhecem, conversam, discutem, paqueram, namoram, transam e - por que não? - se casam.

Há quem se espante que relações reais vinguem no ambiente virtual, mas os pontos favoráveis são inúmeros e vão da segurança até a questão econômica.

Com o pânico instalado por conta da violência urbana e o medo de sair à noite, muitos preferem o aconchego e o conforto do lar para incrementar a sua vida social. Por isso os sites de redes de "relacionamento" estão tão na moda. São a versão "The Sims" de um mundo ideal, com comunidades e grupos de discussão.

Funcionam como os bares e boates do mundo real. As pessoas se exibem, se "encontram", trocam endereços de e-mails em lugar dos telefones e partem para o papo no Messenger. Ou seja, nada de jantares, cinemas e teatros. Paquerar ficou muito mais em conta, só se paga provedor de internet e/ou pulso telefônico.

O que escandaliza quem está off-line é a aparente superficialidade dessas relações e o perigo potencial que elas encerram. Afinal, nunca se sabe ao certo quem está do lado de lá do monitor. O que os críticos não se dão conta é que a virtualidade promove uma aproximação de um tipo todo especial.

Lá as pessoas encontram afinidades, simpatizam e se apaixonam por conteúdos, em contraponto a uma realidade em que as relações são promovidas e pautadas pelas aparências. Isso aproxima idéias e corações sem as limitações que os nossos critérios estéticos têm o mau hábito de determinar. A partir daí, no imponderável, a mágica às vezes acontece.

No quesito segurança, observem-se ali todas as salvaguardas naturais de quando lidamos com o desconhecido. Prudência, cautela e canja de galinha não fazem mal, não é só na virtualidade que corremos o risco de encontrar canalhas, psicóticos, desonestos, drogados, perversos e farsantes, eles são os componentes indesejáveis de qualquer extrato social, portanto fiquem espertos: salto no escuro só com os olhos bem abertos e pára-quedas reserva.

A internet já me proporcionou surpresas incríveis. Namoros e amizades, trabalho e oportunidades que não sei se seriam viáveis no mundo real onde somos tão preconceituosos.

Real? Virtual? Virtual? Real? Quer saber?
Não importa o meio e sim o uso que se faz dele.