sexta-feira, abril 07, 2006

Luxo ou lixo?

Luxo? Dessa vida nada se leva. Nada do que você tem. Apenas o que você é.

Isso posto, essa dimensão do “ter” é totalmente supérflua. Afinal, somos o que somos ou o que temos? Somos o que somos ou o que aparentamos?

Essa perspectiva de história e tradição que alguns pretendem associar ao luxo é totalmente descabida. Não faz muito tempo, uns 20 e poucos anos atrás, o maior exemplo de grife de luxo, eu diria até a inventora nacional desse conceito, lançou seu jeans plaqueado de cromados que custavam uma exorbitância e eram disputados por socialites a peso de ouro. Eu pergunto: Qual a relevância histórica do Sr. Humberto Saad, ou de sua marca, chupada de uma famosa mostarda (essa sim uma marca de prestigio e tradição)? Nenhuma!

Bom, está certo que história no “terceiro mundo” não é exatamente isso. Tudo tem no máximo 500 anos, enquanto a tradição é um conceito milenar. No passado, por exemplo, os plebeus japoneses impedidos de trajar os tecidos de seda com os bordados suntuosos signos exclusivos da nobreza feudal, tatuavam seus corpos na tentativa de, sob o manto uniformizado da classe operária, ostentar o mesmo privilégio dos ricos e poderosos Shoguns. Assim como a “roupa de baixo” é uma invenção francesa, não para manter a higiene do corpo, mas o asseio do suntuoso vestuário palaciano, esse sim digno de cuidados preservacionistas, pois custavam muito caro e distinguiam os nobres cortesões da plebe rude.

Outra afirmação absurda é a de que o luxo é uma necessidade associada ao além ou a uma dimensão espiritual, como se algum humilde pudesse dispor de prendas e acessórios milionários em um simples funeral proletário. Eu gostaria que os católicos expressassem uma visão crítica e manifestassem indignação contra o fausto e a pompa exibidos pelo Vaticano em oposição à miséria dos seus fiéis pelo mundo afora.


Soamos fúteis e pretensiosos ao pretendermos dar uma espécie de sustentação teórica ao exibicionismo da grande burguesia. Dinheiro, isso sim é um luxo.

Num mundo de despossuídos comida é luxo, saúde é luxo, educação é luxo, cultura é luxo. Como é que vamos considerar “marcas de luxo” uma coisa séria num panorama desses? Dentro de critérios mais em contato com a realidade, luxo é qualidade, exatidão e longevidade do desenho e acima de tudo, durabilidade. Se não é assim, assim é que deveria e vai ser.

O que explica que um jeans (vou usá-lo como unidade de avaliação) “de luxo” custe em torno de mil reais, enquanto uma marca popular, com a mesma matéria prima e basicamente os mesmos aviamentos custam quarenta? Eu sei. É a soberba e a separação de classes, o distanciamento da realidade histórica e a visão equivocada do comércio de vestuário, uma aberração que precisa terminar, uma abominação social.


Os punks e grunges, esses sim, são um verdadeiro luxo!

Nenhum comentário: