quinta-feira, setembro 02, 2004

Isso aqui me fez chorar que nem criança... (Tribuna da Imprensa/RJ 02/09/2004)

ABUSO DE PODER

(retirado a pedido da autora mas é só clicar no link que dá pra ver quem escreveu)

"Governos vem e vão / E nesse vai e vem promessas mil.
Farsantes de plantão / Brincam de arruinar o seu país.

E fazem tanto mal / Tem ordem superior.
Não quero acreditar / Que essa gente é feita /
De cinismo e podridão.
As lendas sobre o bem / Que nunca vão se confirmar.
São lendas sobre o bem...
Abuso de poder / Quem mais tem mais quer e é sempre assim.
Ladrões de ocasião / Fazem da ambição o meio e o fim.

E causam tanto mal / Tem ordem superior.
Não quero acreditar / Que essa gente é feita /
De cinismo e podridão."

(Fragmento de Abuso de Poder, de Guilherme Isnard e Celso Fonseca, composta em 1986)

Dezoito anos depois, os farsantes continuam, feitos de cinismo e podridão, brincando de arruinar o meu país. Pintei a cara, briguei por liberdade, e o horário eleitoral me mostra que tudo o que eu exigi não era o que eu imaginava. Está chegando a hora de depositar o meu voto na urna, escolher o candidato que vai me representar, representar as minhas idéias, e eu simplesmente não consigo me sentir representada por nenhum deles. Não quero que se orgulhem de criar um feriado santo em meu nome, não quero vereadores expulsando o FMI em meu nome, não quero seres onipotentes com soluções na ponta da língua. Como eu posso me sentir representada por um candidato que, incapaz de saber o que pretende e sem força de vontade suficiente para decorar duas frases, precisa ler (e muito mal) um texto de 15 segundos? Leva meu voto aquele que for capaz de mostrar a cara e falar: “ Não sei o que fazer, mas vou tentar descobrir". Esse é o candidato que eu quero que me represente: alguém que, assim como eu, tenha mais perguntas que respostas, e mesmo sem garantias de sucesso, esteja disposto a tentar.

Desisti de procurar opções na política partidária e me interessei por um grupo chamado “Brasil, uma solução Brasileira". Por uma incrível coincidência, esse grupo foi criado pelo mesmo Guilherme Isnard da música acima. Dezoito anos depois, ele ainda não desistiu de continuar tentando. E tentando da forma mais bonita possível: Debatendo idéias. Ele, ídolo e símbolo sexual absoluto da minha juventude, podia passar suas tardes deitado no sofá, aproveitando a fama e criando frases de efeito para usar em entrevistas. Mas preferiu o debate anônimo, tentar entender o problema, tentar descobrir soluções. Tentar. Procurar. Buscar. Trabalhar. Suar. E eventualmente, Encontrar.

Meu voto é do Guilherme Isnard. Mas ele não é candidato. Assim como Herbert de Souza também nunca o foi. Já doente, Betinho idealizou a Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, o melhor programa de conscientização social jamais visto no Brasil. E sem precisar pedir um único voto. Sem precisar enganar um único eleitor. Quem promete, não quer fazer, e quem quer fazer, não precisa prometer. Mais do que políticos onipotentes, a nossa sociedade precisa de não-políticos com vontade de trabalhar.

Quanto à imensa maioria dos candidatos, ajudariam mais se abandonassem a política e começassem a varrer a própria calçada e a plantar flores nas praças.

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