quinta-feira, setembro 30, 2004

O BISSEXUALISMO - 1986

Olá amigos,
Eu andei relendo as minhas antigas crônicas para a extinta HV — a primeira das revistas "mudernas" — editada pelo meu saudoso amigo Andrea Carta e achei que vocês talvez gostassem de ver esses velhos textos pois me pareceram ainda atuais e até proféticos, se considerarmos que já se vão quase duas décadas. Espero que se divirtam tanto quanto eu.

O BISSEXUALISMO
Por Guilherme Isnard para HV nº1 – abril/maio de 1986.

Um breve relato sobre tudo o que você sempre quis saber, mas que não teve a coragem de pesquisar.

bissexualismoO bissexualismo e você.
Chegar em casa antes do previsto e perceber sussurros. Abrir a porta do quarto com o coração na mão e descobrir dois corpos enlaçados. Um aroma explícito denunciando a febre do casal.
Parece tele-tema, mas é a vida e a única coisa que tem de novo nessa estória é que ela não é a da esposa que flagrou o marido com "alguma dessas", Tão pouco a do marido que encontra o vizinho “prestativo” resolvendo todos os problemas de madame.
Essa poderia ser a realização de uma das menos inspiradas e recorrentes fantasias masculinas: Encontrar a própria mulherzinha traçando aquele tesouro de amiga da aula de musculação. Ou então a decepção total da princesa que finalmente entende aquela estória de "lança" entre seu consorte e o fiel escudeiro.

O outro lado da meia-noite.
Forte, né? Mas essa surpresa, de encontrar outras nuanças na libido do/a parceiro/a, dependendo do sangue-frio e do apetite, pode ser muito agradável. A estatística desconfiável diz que as mocinhas costumam broxar inapelavelmente quando descobrem seus Apolos brincando do outro lado da meia-noite. Enquanto que os rapazes, na maioria das vezes, concretizam a tão sonhada "ménage à troi". Afinal o bissexualismo feminino costuma ser visto com muitos bons olhos pelos chauvinistas, chega a ser prática altamente recomendável. O engraçado é que essa mesma ótica provoca a aproximação sexual das mulheres que assim conseguem estabelecer uma intimidade necessária justamente para suportar a opressão do macho.

— Eu adoro um rapagão tinindo, vigoroso. Eu gosto mesmo é de macho, essa coisa de espada e bainha, entende? Mas também acho a maior graça em amar (não no sentido bíblico, é claro) um ser que menstrua e pari como eu, questão de afinidade, entende? Essa amiga, entusiasta da modalidade, me contou ainda:
— Sou bissexual porque não tenho “preconceito contra mulher” !?? Pode? E por isso ela mantinha relacionamentos homo de compreensão, identificação e... Muita sacanagem, que ninguém é de ferro. Essa parece ser a categoria que engloba a maioria dos (em linguagem chula) giletes. A do glutão sexual.
— Meu amor! Ser "bi" aumenta no mínimo em 50% as minhas chances de encontrar a "alma-gêmea" numa party ou night-club. Tentou me doutrinar outro amigo, em tom seriíssimo. Como se a vida fosse só encontrar parceiros de qualquer gênero, sexualmente dispostos.
Sinal dos tempos, a libido insaciável parece ignorar que cobertores outros, que não de orelhas, existem há milênios.

"Bi" por contingências.
Os bissexuais ocasionais são pessoas com curiosidades a resolver que ainda não tiveram a chance de, como diz o bom Edu, "optar". Estes geralmente resolvem definitivamente a sexualidade depois de cair um pouco no balaco, mas às vezes continuam "cortando dos dois lados" como válvula de escape para o homossexualismo enrustido e/ou reprimido. Que nem naquela estória do garotão que estava descobrindo as delícias do bas-fonds quando trombou com o pai, cristão repressor, botando pra quebrar num inferninho gay.

Existem também os bissexuais etílicos ou adeptos de outras drogas, tipo aquele amigo/a que você admira por estar sempre bem acompanhado/a e um dia, já de pilequinho ou doidão, manda o célebre mãozão na coxa e começa com aquele papo aranha de descobrir a sexualidade no mesmo sexo e que só um igual pode te dar o verdadeiro prazer. Constrangedor! Mas não se preocupe, amanhã ele jura que não faz idéia do que aconteceu depois da fatídica meia-noite e pede desculpas. Vão-se os anéis, mas salvam-se as aparências.

Nelson Rodrigues... Err, quer dizer Freud, explica!
Interessante mesmo foi conhecer um pansexual confesso, filho de um ex-ditador centro-americano, que entre outras variantes de prodigiosa criatividade me contou emocionado a iniciação erótica de sua linda cadela collie de pêlo dourado.
Sexo em amplo espectro. Haja tesão!

Apetites fantásticos à parte, os "Bi" têm um argumento de peso: Você sempre sabe de como gostaria de ter prazer, o que é muito proveitoso quando aplicado em parceiros homo. Tocar onde deseja ser tocado parece que facilita as coisas. Eles dizem também que o paraíso "bi" é Paraty. Perguntei por quê e só obtive abstrações como resposta:
— Coisas do clima... Da vibração... Podes crer! Parece que é lá que pinta o tal do "tesão sonrisal" que até agora também não entendi direito o que é, deve ser assunto só para iniciados. Pesquise!

Do meu lado só posso contar que a minha melhor namorada (parece papo de Kid Abelha) se superou no dia em que, entre tímida e cruel, resolveu socializar o namoro dela com outra sereia do mesmo naipe, com quem vinha me traindo há semanas sem levantar suspeitas. Melhor que isso, só dois disso, o povo disse e eu endosso.

Divirtam-se crianças.
Mas cuidado nunca é demais, lembrem-se que o Doc avisou que a SIDA acabou com a estória do lavou-tá-novo. Portanto, divirtam-se "moderadamente", que a bruxa está solta, e a fim de exploser avec la bouche de le balon!

PS. Aguardem ansiosamente nesse mesmo sex-canal os próximos capítulos de "A moderna sexualidade subtropical” Tudo sobre o transexualismo. Relatos sobre estupros demoníacos e casos afins, como o comovente depoimento de uma índia ribeirinha que engravidou vítima indefesa (tá boa?) do boto tarado e também um verbete especial dedicado aos inter-relacionamentos domésticos (Elektras, Edipos etc...) apresentando uma análise profunda da psique daquela madame que pichou enfaticamente nos muros dos jardins:
— Filhinha, mamãe tá louca pra te comer!

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