quinta-feira, fevereiro 02, 2006

OMB, Sócrates e Maldita!

Certas coisas nessa vida vêm nos lugares e das pessoas mais inesperadas.

Hoje eu fui até a famigerada Ordem dos Músicos do Brasil acertar a minha situação profissional (porque eles podem simplesmente me impedir de trabalhar se não fizer esse “acerto”). Não importam meus discos gravados, as centenas de milhares de cópias vendidas, minhas composições editadas. Se eu não pagar a tal da carteirinha que não serve pra nada, não posso trabalhar, não sou músico!

Bueno, fomos lá o Vidaut (batera da Maldita e do ZERØ) e seus dois cantores, o Erich Mariani e eu. Sempre curto muito quando encontro a galera da Maldita, eles são total rock e isso me faz lembrar porque estou nessa vida até hoje: vitalidade, inspiração, energia, velocidade e atitude! Yeah!

O Vidaut na direção do Santanás (só entende quem já andou nessa verdadeira barca de Caronte) vinha cantando ZERØ - estamos ensaiando pro show de Juiz de Fora - especificamente o refrão de “A Culpa Não É Do Amor”: “Eu só sei que eu não sei de nada...” e o Erich (the best rock-performer that I know) mandou essa: - Como já dizia Sócrates...

Young bloody rockers íntimos dos filósofos Gregos, cool. Muita coisa legal deve vir por aí. Os caras estão terminando o segundo CD e essa é uma excelente notícia.

Mas Sócrates? Eu não citei Sócrates, só concluí o mesmo que ele. E essa é uma questão minha: É proibido pensar o que já foi pensado? Dizer o que já foi dito? Ao meu ver, com uma diferença de mil e algumas centenas de anos nós dois chegamos a mesma inteligente constatação. Nas palavras dele – “Eu só sei que nada sei”. Fora isso, é impossível evitar que tudo o que eu leio, vejo, ouço e aprecio venha a manifestar-se no que escrevo.

O mais incrível é que o ex-soldado, filho do escultor e da parteira, mentor de Platão, Xenofonte, Euclides de Megara e Fédon entre outros, pregava que o diálogo era mais importante que a leitura. Não acreditava na eficácia da palavra escrita e, portanto, não se importava em ser lido, seguido ou emulado.


Qual a razão porque Sócrates nada escreveu?

"Sócrates: - O maior inconveniente da escrita parece-se, caro Fedro, se bem julgo, com a Pintura. As figuras pintadas têm atitudes de seres vivos, mas se alguém as interrogar, manter-se-ão silenciosas, o mesmo acontecendo com os discursos: falam das coisas como se estas estivessem vivas, mas, se alguém os interroga, no intuito de obter um esclarecimento, limitam-se a repetir sempre a mesma coisa".

Platão, Fedro, 275.7

Quem diria que um passeio pelo centro do Rio com dois jovens músicos radicais me levaria a esse tipo de questionamento? Foi exatamente por isso, pela convivência enriquecedora com a juventude, que Sócrates foi condenado a morrer envenenando-se com um drink dos infernos: cicuta.


Eu estou com esses júvenes inquietos e talentosos e não abro! Só espero que um melhor destino me esteja reservado.

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