quarta-feira, janeiro 04, 2006

ILAÇÕES SOBRE A AMIZADE

Esse é o primeiro post de 2006, me parece apropriado discorrer sobre um tema que foi muito importante e determinante pra mim durante todo o ano de 2005, a amizade.

Foi a amizade que me proporcionou os melhores e piores momentos de 2005, mas acima de tudo, foi ela a mestra das melhores lições.

Sei bem que sou um escriba inconstante e é possível que essa descontinuidade desaponte os que nos visitam interessados nessa leitura. A razão é simples, escrever e compor dependem da necessidade de externar algo, fazer uma declaração pro mundo, esclarecer algo pra mim mesmo ou pro outro. Não consigo escrever textos ou canções vazias nem escrever por escrever. Desculpem-me.

Já até tentei transformar esse blog num diário, mas qual a finalidade de um diário? A satisfação da curiosidade alheia? A fixação de eventos passados numa memória "física"? De curiosos e lembranças permanentes eu estou bem obrigado.
Esgotado o preâmbulo, cometo algumas divagações sobre esse tipo especial de (pra variar) amor.


Afinal, o que é esse estranho e poderoso elo capaz de unir pessoas por uma existência e além dela? Através de vales e montanhas, dores e risos, guerras e paz? Como nasce uma amizade? No que consiste essa mágica?

Não sou teórico, muito menos filósofo, mas me arrisco por algumas linhas e entre elas.

No vernáculo o verbete oferece a definição concreta de um sentimento abstrato. Nos explica e sinonimiza:
Do Lat. *amicitate. Substantivo feminino. 1.afeição, 2.amor, 3.boas relações, 4.laço cordial entre duas ou mais entidades, 5.dedicação, 6.benevolência.

Soa justo e preciso, afeição + amor + dedicação + benevolência = amizade. É uma bela equação certo? Errado! Eis porque: a amizade presume a doação e esse é o fator ausente na “formulação" proposta. Por doação subentende-se que quem recebe aceita o que é oferecido. Mas não, não é simples assim, temos nossas exigências, muito se cobra de um amigo hoje em dia.

Não sei como funcionava no passado, mas vivo a fantasia romântica de que a amizade é um afeto desinteressado, do qual não se espera nada além da recompensa intrínseca de saber-se caro, estimado, único, insubstituível e (por extensão) confiável, leal e pertencente (no sentido de não-só). Hoje sou obrigado a aceitar com tristeza que não é o bastante.

É certo que amizade é um bem, mas não é commodities, não é uma ação que rende dividendos, ou não deveria ser. Atualmente as pessoas determinam o que elas querem/devem receber em troca de uma amizade, como se a contabilidade desse afeto fosse administrável. E ai daqueles que falharem no balancete, serão extirpados friamente do calorzinho bom de um abraço fraterno e condenados ao limbo da incredibilidade e da falência cordial.

“Em troca da amizade” como assim?
Pois se amizade é doação, o que se dá em troca da coisa doada? O prazer de se dar ou de dar algo, não é um pressuposto de incondicionalidade?
Ahhhh não! Doce ilusão, levado pelo entusiasmo da fluência do desabafo me engano redondamente, doação não faz parte dos sinônimos tecnicamente aplicáveis à amizade. Mas deveria! Alguém concorda?

Um amigo não é o fruto de uma elucubração nem de uma decisão racional, tampouco de um sorteio. O amigo não se escolhe, acolhe-se. É destino, não opção. É a família eleita, o irmão, o filho ou o pai por adoção. Pode estar próximo ou ausente. Na virtualidade ou no mundo real. É aquele por quem nos batemos e com quem contamos nos momentos importantes, nas grandes crises e junto a quem festejamos as conquistas verdadeiras. O amigo não é um amante, não é um amor que vai ou vem ao sabor ou saber, não é descartável e, decididamente, não é uma efêmera paixão.

Um amigo permanece, é pra sempre, é eterno.
Que me perdoe Vinicius, mesmo que não dure.

Que vocês façam muitas novas, verdadeiras e duradouras amizades em 2006.

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