sexta-feira, janeiro 20, 2006

RX de uma canção - OS ANJOS DIZEM AMÉM

A principio essa música (Clique no título do post para ouvir uma versão ao vivo!) não era pra ter nada a ver comigo. Mas só a princípio, ainda bem.
Em 2002 hospedei em casa um amigo da minha querida Débora Nassuti. Um camarada talentoso que estava no Rio de Janeiro estudando cinema, mas que pretendia compor músicas. Esse amigo, Régis Rodrigues (AKA Régis Bittencourt ou Régis Trovão), escreve muito bem e por isso eu sugeri que ele procurasse um músico pra criar com ele.
O malandrinho foi procurar justo o cara que acabara de entrar no ZERØ e começaram a compor. Me senti meio que atropelado quando soube. Afinal, Yan França era o novo guitarrista da minha banda, a gente ainda não tinha tido a oportunidade de fazer nada juntos e lá estava ele compondo com outro cara. Ciúme é mesmo um sentimento ridículo, mas foi o que eu senti até ouvir a primeira canção dos dois e perceber que eu também tinha com o que contribuir.
Não por nada, nem que não estivesse bom, muito ao contrário. “Os Anjos Dizem Amém” - primeiro fruto da parceria - já continha todos os ingredientes de uma bela canção. Só estava desarrumada. Tinha sílabas e tempos melódicos sobrando, vocábulos que não fluíam e uma melodia que se desdobrava pra encaixar as muitas palavras alí enfileiradas.
Fernando Pessoa dizia que a canção é a poesia ajudada, eu não discordo. A letra de uma canção tem características totalmente diferentes da palavra dita, lida ou escrita. Na canção as palavras precisam ter musicalidade ou expressá-la na forma em que se encadeiam. O sentido e o som de cada uma delas precisam estar entrelaçados em um fluxo melódico contínuo. Era só isso que me incomodava no belo poema do meu amigo Régis. Não era uma letra de música, era um belo poema e eu podia "ajudar".
Eu nunca me considerei um poeta, nunca escrevi algo com essa pretensão, nem nada que fosse musicado depois de escrito. Apenas arrumava as palavras em torno de um desenho melódico. Cuidando para que fizessem sentido, que narrassem com clareza uma história ou depoimento. Mas por diversas vezes sacrifiquei trechos pouco fonéticos ou musicais de estrofes belíssimas. Ou seja, eu sou um letrista. Trabalho sim com as palavras e a sua poesia, mas com elas estou mais para artesão do que artista. Cheguei até a inventar a palavra “proesia” pra designar minha prosa poética, mas foi em vão como vocês verão.
Um belo dia estava eu explicando essa diferença entre o poeta e o letrista pra uma pessoa em um papo de messenger. Tentando tirar dos meus ombros a responsabilidade de ser um poeta, envergonhado que sou diante desses pelas minhas pobres rimas ginasianas. Quando por um desses “milagres” de sincronia recebi um e-mail. Nele a amiga, atriz e cantora Thalma de Freitas contava da coincidência que foi receber pela circular do seu grupo de discussão e estudos poéticos, a letra da minha canção “Carne Humana”. Bem... fazer o que né, se minhas letras são objeto de estudo e discussão por amantes da poesia, então me submeto. Eu sou um poeta, desses bem simplórios, mas um poeta.
Foi com esse olhar de quem escreve letra e poesia que me intrometi na canção deles, ajeitando (verso a verso) o sentido, o ritmo e a musicalidade de cada palavra. Modificando a melodia quando necessário e ceifando o supérfluo, até chegarmos a um resultado em comum senso.
Essa linda e tocante canção fala do preço que só cada um sabe que pagou pra chegar aonde está. Das escolhas que fez. Do que precisou abrir mão e do que não prescindiu de modo algum. E de como todo esse investimento pode escorrer pelos dedos se não estivermos alertas, se insistirmos no mau “timing” ou numa percepção errada de propósitos, ocasião e oportunidade. Conclui com um refrão que propõe a possibilidade da transformação através do sacrifício do ego - pois só os estúpidos insistem no erro - e afirma que se essa transformação ocorre com firmeza e vontade, ela certamente será abençoada por todos os anjos e Deuses do firmamento.
E que assim seja:
OS ANJOS DIZEM AMÉM
© 2006 - Yan França, Régis Rodrigues e Guilherme Isnard (BMG Publishing)
Só eu sei o que ficou no caminho
O que não se perdeu
E o que me deixou sozinho
Só eu sei o que passou distante
E o que sempre esteve perto

Talvez não fosse o tempo certo
Ou eu não disse as coisas certas
Não tive um foco definido em mente
Nem estive em alerta permanente

Talvez eu mude, talvez eu me ajude
Talvez eu mude, talvez eu me ajude
Quando a vontade impera amiúde
Os deuses abençoam e os anjos dizem amém

Só eu sei o que ficou no caminho
O que não se perdeu
E o que me deixou sozinho
Só eu sei o que passou distante
E o que sempre esteve perto

Talvez não fosse o tempo certo
Ou eu não disse as coisas certas
Não tive um foco definido em mente
Nem estive em alerta permanente

Talvez eu mude, talvez eu me ajude
Talvez eu mude, talvez eu me ajude
Quando a vontade impera amiúde
Os deuses abençoam e os anjos dizem amém
E os anjos dizem...

E os anjos dizem amém
Talvez eu mude, talvez eu me ajude
Os anjos dizem amém
Talvez eu mude, talvez eu me ajude
Os anjos dizem amém
Dizem amém, dizem amém, dizem amém

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